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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

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O Brasil deve olhar para o futuro

Uma década atrás, quando Jim O'Neill cunhou a sigla Bric, ele foi duramente criticado por incluir o Brasil. 2001 foi um ano ruim para a economia, com o contágio da crise argentina, a nossa própria crise de energia e da desordem política na coalizão de governo.

Quando o governador do banco central escreveu para o ministro das Finanças para explicar a violação do limite superior da banda da meta de inflação, ele disse que a inflação teve tendência para baixo como os choques do tipo que atingiu o Brasil naquele ano não eram de se esperar no futuro. Mal sabíamos o que estava por vir.

Em 2002, o Brasil sofreu uma parada súbita significativa, com os investidores, nacionais e estrangeiros, fugindo do país com medo de Lula, o candidato presidencial de esquerda, então percebido como hostil ao mercado . A  real brasileiro perdeu metade de seu valor frente ao dólar (ver gráfico 1) e a inflação subiu de 7,7 por cento em 2001 para 12,5 por cento em 2002, como a economia estagnou (ver gráfico 2).


Gráfico 1


Gráfico 2



Mas a partir de 2003, a escolha de O'Neill do Brasil seria justificada. Lula destruiu o programa econômico de seu partido e manteve o quadro macroeconómico herdado do governo Fernando Henrique Cardoso, com base no tripé de superávits primários, metas de inflação e uma taxa de câmbio flutuante. A China ajudou. O Brasil surfou a onda de commodities, fornecendo produtos agrícolas e minério de ferro. O Gráfico 1 mostra a correlação estreita entre os preços das commodities, medido pelo índice CRB, ea taxa de câmbio nominal: como os preços das commodities subiram, o valor do real aumentou. Esta combinação também ajudou a controlar a inflação, como aumento dos preços das commodities em USD foram mitigados pela valorização do real. De 2003 até a crise de 2008 internacional, o governo empreendeu uma grande reforma da folha de balanço do setor público, acabando com muitos dos desajustes cambiais que tinham assombrado o Brasil por décadas. A dívida interna indexada a moedas estrangeiras foi eliminada, a dívida externa foi reduzida e as reservas cambiais acumuladas (ver gráfico 3).

Gráfico 3


Embora o Brasil tenha sofrido com a crise de 2008, foi capaz de rapidamente retomar o crescimento. Reações políticas incluíram o alívio monetário moderado e a expansão fiscal e parafiscal abundante, através de uma expansão de crédito dos bancos estatais. Como resultado, a redução nas taxas de juros teve de ser interrompida quando a taxa Selic política ainda era muito alta, em 8,75 por cento. A expansão da dívida pública e dos gastos públicos, que tinha muito mais a ver com considerações eleitorais do que lutar contra a recessão, contribuiu significativamente para o aumento da inflação, que ainda está conosco hoje, como mostrado no gráfico 4.




Gráfico 4


A reação política ao atual estágio da crise internacional é suposta  confiar mais na flexibilização da política monetária. A taxa Selic caiu de 12,5 por cento para 11 por cento. Apesar de seu nível ainda muito elevado, a maioria das previsões não assume que desta vez - salvo fortemente deflacionária eventos cataclísmicos que emanam da
Europa- a flexibilização da política monetária pode prosseguir além do que antes, sem comprometer a luta contra a inflação.

A necessidade de altas taxas de juros reais para manter a inflação sob controle, continua sendo um grande obstáculo para alcançar a meta de longo prazo do crescimento sustentado em 5 por cento ao ano. Há muito debate sobre por que o Brasil precisa de taxas tão elevadas, mas há um consenso de que a nossa taxa de poupança baixa, especialmente a poupança negativa do setor público, são uma grande parte da resposta.

De fato, a longo prazo o ajuste fiscal é o principal desafio macroeconômico do Brasil nos próximos 10 anos, apesar da nossa boa posição em relação a outros países. O Brasil tem mantido um superávit primário sólido por muitos anos - apesar das consideráveis doses ​​de contabilidade criativa nos últimos anos -  ea dívida líquida vem caindo de forma constante. No entanto, as contas fiscais tendem a se deteriorar no longo prazo. O aumento acentuado da carga fiscal, que aumentou de 25 por cento do PIB em 1994 para 35 por cento em 2010, vai desacelerar. Mas os gastos do governo continuarão subindo devido à rigidez severa dos gastos públicos - agravada pela reação à crise de 2008 - e para a carga inevitável que a demografia vai colocar em um sistema de segurança social muito generoso. Como a situação atual em muitos países europeus mostra, os países tendem a esperar até que a crise descenda sobre eles, antes de tomar ações conhecidas como sendo inevitáveis, ​​com bastante antecedência. O Brasil, infelizmente, não é uma exceção.

Enquanto a China continua crescendo, o Brasil vai se beneficiar, principalmente por exportar commodities. O descobrimento no Brasil de grandes reservas de petróleo offshore vai ajudar ainda mais - apresentando grandes desafios tecnológicos que, quando conquistados, vai guiar o Brasil para a OPEP. Mas sob esse cenário otimista a moeda continuará a ser sobrevalorizada e as manufaturas  brasileiras vão continuar sofrendo.
Para aumentar a produtividade, muitas reformas devem ser realizadas. A tributação é muito pesada e distorcionária, promovendo a informalidade. As leis trabalhistas estão desatualizadas e a atrapalham a criação de empregos. A justiça é extremamente lenta e as leis de propriedade são mal executadas. A competição é fraca em muitas áreas e o protecionismo é sempre uma ameaça. Acima de tudo, a educação ainda deixa a desejar . Embora a cobertura universal tenha sido alcançada no nível fundamental, as crianças brasileiras aprendem muito pouco, como evidenciado pelos resultados  padronizados dos testes internacionais. Sua força de trabalho mal educada é o calcanhar de Achiles do Brasil. Isso está mudando muito lentamente, apesar das políticas sociais que reduziram a desigualdade de renda.

Jim O'Neill acertou potencialmente no seu apelido. O Brasil tem um grande potencial -  não para crescer à taxas chinesas ou mesmo indianas, mas para crescer a um robusto cinco por cento ao ano na próxima década. Para atingir este objetivo, os governos devem agir de agora para o futuro, e não comemorar sucessos  passados.

(Márcio Garcia, em)

http://blogs.ft.com/beyond-brics/2011/12/06/brazil-must-look-to-the-future/#axzz1frJdvdbT

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